terça-feira, dezembro 11, 2007


Procuro dizer o que sinto
Sem pensar em que o sinto.
Procuro encostar as palavras à idéia
E não precisar dum corredor
Do pensamento para as palavras.
Nem sempre consigo sentir o que sei que devo sentir.
O meu pensamento só muito devagar atravessa o rio a nado
Porque lhe pesa o fato que os homens o fizeram usar.
Procuro despir-me do que aprendi,
Procuro esquecer-me do modo de lembrar que me ensinaram,
E raspar a tinta com que me pintaram os sentidos,
Desencaixotar as minhas emoções verdadeiras,
Desembrulhar-me e ser eu...


(Fernando Pessoa)

2 comentários:

rita disse...

incrível como o pessoa tem tantos poemas que fazem tanto sentido em mim (como, pelos vistos, em ti...)

[preciso tanto de me desembrulhar e ser eu a tempo inteiro.]

beijinhos com saudades*

Marta da Cunha e Castro disse...

Se calhar é por sermos parecidas =P
Mas sabes, somos feitas de várias camadas e cabe às outras pessoas nos desembrulhar e ver o verdadeiro tesouro que existe por baixo de tantas folhas de papel, ou de qualquer outra coisa que nos embrulhe...