Sim. Eu sei que estou a ser egoísta. Quero sugar-te tudo o que trazes contigo e pouco já tenho para te dar.
Quero-te a ti como quem quer a fonte da vida eterna. Sou Ponce de Leão, sou Drácula, sou um cavaleiro procurando o Santo Graal.
Quero a tua juventude, a tua beleza, quero o teu corpo e a tua ousadia.
Quero aquela parte tão misteriosa, e no entanto tão reveladora que tentas guardar em ti e que desvendo entre as linhas dos textos que me engancham como um anzol deixando-me à mercê de elementos que não meus.
Eu sou água. Tu és fogo.
Eu sou um velho farol fustigado pelos ventos, ondas e marés com paredes destintadas pelos anos. Tu és a ave que me sobrevoa em círculos diários deixando-me zonzo pela persistência do voo, pela elegância das formas que desenhas nos céus. Pelo desejo de sair. De liberdade.
E tu és tão jovem.
E na tua juventude eu descubro uma inteligência e uma perspicácia que poucos conseguem obter tão cedo. Porque a vida não dá tudo de uma vez. Não podes ter esse corpo que me alerta os hormônios e essa mente tão madura em simultâneo. Não podes, não deves. Uma coisa de cada vez. Uma coisa ou a outra. A juventude ou a maturidade. O corpo de ninfa ou a ponderação.
E é verdade que a maturidade se alcança cedo. Mas não tão cedo. É um mito que ela se ganha pela vida. Ganhamo-la a um terço. Depois andamos em roda de nós próprios, fazendo loopings dos acertos e das asneiras que cometemos e recometemos pela vida. Tal e qual um cão a correr atrás da sua cauda.
E para pararmos de andar aos círculos temos de encontrar um rumo. Uma meta. Uma mulher.
São raras as que tomamos como nossas. São raras as que cobiçamos assim.
Uma folha quase em branco e que contudo parece ter resistência suficiente para que nela caiba tudo. Tudo o que lhe queremos escrever. Uma história, uma saga. Um poema, uma fábula.
Eu sou um escritor. Não posso escrever sobre folhas já escritas nem consigo concentrar-me em páginas que não estejam imaculadas.
Porque eu não sou imaculado. Pelo contrário carrego um lastro de memórias e esquecimentos, de gostos e de desgostos, de paixões e compaixões, de impulsos e retraimentos, de recordações e arrependimentos, de olhos verdes, castanho e negros, de corpos esguios e voluptuosos, de camas, de carros, de cidades e de pinhais, de cartas e de mensagens, de telefonemas durante a noite e encontros durante o dia, de lágrimas e risos, de zangas e de pazes.
Trago um mundo em mim.
E trazer um mundo dentro de nós é como trazer uma caixa de Pandora pronta a espalhar o mal, não pelo planeta mas por um mundo com o nome de quem nos unimos.
Porque em mim há uma réstia de esperança de fazer viver a vida a alguém mas há também a semente para a desilusão.
Há risos e lágrimas sim. Há aventura, adrenalina, loucura e descobrimento. Há sims! Mas também há complexos intrincados multiplicados e emaranhados que podem enredar como os fios de uma aranha.
Se Estar comigo pode ser uma montanha russa, Ser comigo é um salto para o abismo esperando sair vivo dessa decisão. É uma aventura? Sim. Mas não é uma aventura começar uma qualquer relação?
És ainda uma folha em branco por onde eu posso escrever.
O pouco que portas não passa ainda de pequenas glosas que mais tarde poderás utilizar no texto principal. Por ora não passarão de notas à margem, anotações de quem espera ainda escrever o grande romance da sua vida.
Eu poderei ser mais uma dessas notas.
Ou não.
Agarra-me ou voa para longe.
Serás então ave eu farol. Tu vento e eu pedra. Tu maré que recua e eu areia que fica.
Paulo Caiado
A Uma Vida de Ti
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