sábado, janeiro 25, 2014

Entre A Terra E O Céu, por Greg Bennick

A cada um de nós, resta-lhe um número específico de batidas de coração, como um relógio, contando os segundos de forma decrescente até ao zero. No tempo em que demoraste a ler isto, usaste pelo menos dez. Agora, pelo menos doze. Estes são momentos que foram vividos. Acabaram. Nunca mais os terás de volta. Talvez colocando as coisas desta forma nos possamos aperceber da magia do tempo e dos momentos que nunca mais voltam, de escrevermos a vida sem borracha e de nunca mais podermos voltar atrás e repetir, de forma única e igual, o que passou.
Tudo aquilo que conhecemos – os nossos desejos, esperanças, sonhos, todas as coisas que queremos experimentar com cada pedaço de nervo que temos dentro de nós – tudo isso chegará a um fim. E esse fim pode ser hoje à noite ou amanhã de manhã. Pode demorar décadas de segundos se formos afortunados. Mas a inevitabilidade é esta: nós seremos eventualmente, num sentido muito literal, da Terra. 

A ideia de um “para sempre”, uma quantidade limitada de tempo em que podermos experimentar tudo aquilo que esperamos, é um conto de fadas. Somos nós, desejando ser do céu, permanente, mais do que terrivelmente limitados da Terra e do corpo. “Para Sempre” é uma história ilusória que contamos a nós próprios para amenizar o que, em caso contrário, seria um estado de humilhação ou de sonhos despedaçados. No fundo, nós sabemos isto. Ainda assim, tomamos como garantidos aqueles que amamos até ser tarde demais. Absorvemo-nos no trivial. Somos maltratados por pessoas, obcecados com relacionamentos maus e perdidos em padrões. Esquecemo-nos dos segundos que nos escaparam por entre os dedos como grãos de areia para nunca mais voltarem, da esperança implacável enquanto procuramos significado nisto tudo, mesmo que esse significado seja apenas tão simples como uma corrente de sangue que passa pela nossa cara vinda do nosso ainda-coração-que-bate. Passamos as nossas vidas no caos, viciados no sofrimento e abuso e ainda assim suplicamos por mais.

Tudo isto, nós criámos, num mundo que chama pela nossa clareza, as nossas vozes, a nossa ajuda, acção directa, paixão, amor e revolução. 

Existe uma passagem. Mas significa que talvez tenhamos de nos afastar daquilo e daqueles a quem nos agarrámos por segurança. Significa tomar uma acção diferente. Talvez tenhamos que amar algo tanto que estaremos dispostos a gritar sobre isso até que as nossas gargantas sangrem. Talvez tenhamos que contar segredos que jurámos nunca partilhar. Ou talvez tenhamos que largar alguém que nos magoa há muito. Talvez tenhamos que ter o coração partido mais uma vez. Talvez até tenhamos que contar uma piada que falhará. Talvez tenhamos que beijar alguém novo. Ou admitir que temos medo. Talvez tenhamos que desistir dos nossos empregos. Ou criar novos. Talvez tenhamos que fazer algo que nós mesmos estamos convencidos ser impossível. Mas se encontrarmos coragem para fazer estas coisas e pelo facto de corrermos esses riscos conseguimos sentir aquele pico de sangue e sentirmos que sentimos algo real, então temos de usar o que acabámos de descobrir dentro de nós como combustível e oferecer algo de volta ao mundo. 

Cada segundo é mais um bater de coração que está a contar. Não desperdices mais nenhum. Não há garantias nem há seguranças. Só existe este momento. És um@ afortunad@ por estares aqui, preso, mas com toda a possibilidade de liberdade, entre a Terra e o Céu.

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