segunda-feira, março 29, 2010

Republicar "Espero bem que não"

O amor nunca abrirá o Telejornal



As pessoas dizem que o amor é muito diferente do ódio e eu com franqueza, não concordo nada. Acho que são gémeos falsos, é mais isso, nasceram no mesmo dia, são filhos da mesma mãe, e por uma sorte que nunca saberemos explicar, não foram igualzinhos e usaram a mesma roupa. Foi sorte. O que tiveram foi vidas diferentes. O amor é claramente a rapariga que encontra o homem dos seus sonhos, um ricaço que lhe faz filhos lindos, com sorrisos incríveis e largos, que cheiram a classe, a sabão, que frequentam colégios caros e cujo pai, o tal ricaço, tem obviamente uma amante com a qual passa fins-de-semana de negócios inadiáveis. O ódio nem tempo para isso tem. E digo isto com profunda tristeza, porque estou convencido que o ódio podia ter sido um gajo porreiro e o amor uma besta inqualificável. Mas não foi. E assim, o ódio é a besta e o amor o filho querido.


Mas nem tudo são desvantagens no ódio. O ódio pode ser um amor e tem coisas maravilhosas. Uma delas, é nunca esquecer. E disso não tenham dúvidas, o ódio se for bom, bem alimentado portanto, nunca se esquece. Já o amor, mesmo que seja bom, nada nos garante. Há amores muito lindos que se pensava serem para uma vida e vai-se a ver, não duram mais de dois meses. Enquanto isso, não conheço um único caso de ódio que tinha tido uma relação pouca duradoura, o que prova que mais depressa o ódio é para toda a vida do que o amor. E porquê? Porque no ódio, as coisas são feitas com uma outra decência, com uma respeitável seriedade que quase já não existe no Amor. O ódio é um homem sério, de firmes convicções, o amor é um cheque em branco, que com a crise que se vê, quase sempre não tem cobertura.


Daí que o ódio seja mais falado e tenha mais noticias na televisão. Nenhum telejornal que se queira sério, liga muito ao amor. O amor é para as revistas cor-de-rosa, para gente que aprecia futilidades ou para ser usado como fait divers no final do serviço noticioso.E a verdade é esta, no mundo em que vivemos, só o ódio pode abrir um telejornal e quanto muito, só como manobra de diversão, o amor fechá-lo.

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