sexta-feira, março 12, 2010

O livro de Eli

O regresso dos irmãos Hughes desiludiu pelo que prometia e não cumpriu. O Livro de Eli ambienta-nos rapidamente num futuro pós-apocalíptico, um pós-guerra, numa paisagem devastada. A luz solar parece estar coberta por um manto de poeira, as cidades estão abandonadas, completamente destruídas, enormes crateras no solo, não há nada que se assemelhe a uma construção sólida, não há Lei, não há civilização. Existe apenas o Homem e a sua ganância, a sua falta de humanidade. As estradas são dominadas por gangues que matam por sapatos, por comida, por água ou simplesmente por nada, porque sim.



Mas existe um guerreiro – com o que resta da moral que a Humanidade perdeu. Guerreiro, não por opção, mas por necessidade. Não é a sua vida que resguarda, a sua integridade. Aquilo que este guerreiro tão ferozmente protege é a esperança da Humanidade – a crença que desde há 30 anos ainda não perdeu. É movido pela esperança, pelo compromisso e pela crença em algo superior que o protege e guia.

É precisamente nesse ambiente e reconstituição visual que o filme se destaca. O trabalho fotográfico de Don Burgess (Cast Away) é aquele que mais se destaca perante todo o trabalho técnico, de facto eficaz. Porém, a nível narrativo o filme perde bastante. E embora o Grande Auditório do Fantasporto estivesse cheio aquando da antestreia de O Livro de Eli, a verdade é que se sentiu alguma desilusão por parte do público.



O argumento do estreante Gary Whitta é sofrível, com recurso a um fraco pretexto para criar um filme e inundado de clichés. O suspense e a falta de explicações – apesar de existirem no início e nos deixarem curiosos – rapidamente deixam de existir, para dar lugar ao desfilar das personagens que, em grande parte das alturas, apenas deambulam sem nada de novo para revelar. Esse efeito de previsibilidade – mesmo vindo de um blockbuster – prejudica toda a apreciação do filme, que tinha potencial para mais. O único plot twist (se é que assim lhe podemos chamar) que a história possa apresentar, apenas surge no final e não adianta de nada a tudo o que se passou para trás.

As poucas cenas de acção que existem são bem realizadas e prendem a atenção, especialmente para um público sedento como o do Fantasporto. São esses pequenos momentos bem conseguidos e divertidos que permitem ao filme não entrar numa espiral descendente do início ao fim. A forma como Albert Hughes e Allen Hughes usam a câmara é eficaz e competente, mas acabam por ser prejudicados pelo rumo que quiseram dar ao filme.



A nível de elenco temos uma personagem interessante interpretada por Denzel Washington, mas não deixamos de nos aborrecer com um modo de piloto automático em que entra ao longo do filme. Já Mila Kunis, apesar do seu carisma, não deixa de ser um pretexto para incluir uma protagonista feminina no filme. Por seu lado, não podemos deixar de referir a boa forma de Gary Oldman, num interessante papel de vilão. É de facto um dos melhores desempenhos e personagens de O Livro de Eli.

Contudo, o final é por demais disparatado e previsível, para não dizer, assim à má-vontade, bastante foleiro. O Livro de Eli não passa de um blockbuster medíocre, sem nada de novo a acrescentar, mesmo a nível de entretenimento puro que, diga-se, quase chega a não existir.

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