quinta-feira, janeiro 24, 2019

Anti-Socialidade


Vivemos vidas emprestadas através do ecrã do telemóvel, onde colorimos o que queremos e metemos um filtro para embelezar. Cobiçamos as vidas alheias e julgamos sem remorsos. Escondemo-nos por detrás de um ecrã que nos confere a atitude de deuses do Olimpo. Mergulhamo-nos de tal fora no virtual que nos esquecemos do que está a nossa volta e negligenciamos a família, os amigos, o mundo e mais importante: nós próprios. Esquecemo-nos de viver a nossa vida porque estamos demasiado ocupados a viver a vida dos outros. Pensamos demasiado na opinião dos demais sem sequer formarmos a nossa primeiro. Aprendemos a andar em rebanho seguindo as tendências e as modas, sem nunca sabermos verdadeiramente o que é ser original. Fazemos um Photoshop à nossa vida para parecermos mais interessantes, para que gostem de nós, para termos mais seguidores. E confundimos seguidores com amigos. Trocamos a amizade pela massagem ao ego. Somos as vítimas auto-infligidas de uma sociedade que de social começa a ter muito pouco. Porque cada vez mais nos sentamos todos juntos num pretexto para café e passamos mais tempo de cabeça baixa dentro de um monitor que a olhar nos olhos das pessoas que estão connosco. Descuidamos a interacção e as ligações interpessoais acorrentados à necessidade da password da internet, com a desculpa de que não podemos estar desligados do mundo, quando esse mesmo mundo está à nossa volta e não dentro de uma qualquer máquina.

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