quinta-feira, novembro 26, 2015

Paris.


Ela pediu-lhe Paris. A cidade que, de alguma forma, tinha passado a ser deles, embora nunca a tivessem realmente partilhado. Mas ele, com receio, nada lhe disse. Tinha medo do que pudesse significar aquilo. Mais para ele do que para ela até. E naquele preciso momento, desejou que Paris não existisse para não ter de enfrentar o seu destino. E, no dia seguinte, a noticia estava em todas as televisões: Paris estava sob ataque terrorista e todas as suas fronteiras estavam agora fechadas. Paris tinha parado de existir.

A ela chocou-lhe a maldade humana. Pesou-lhe o coração por aqueles que ficaram pelo caminho da vida, por uma guerra que nem sequer era sua. Entristeceu-lhe a alma. E, soube ali que nunca teria Paris para si. Já ele, sem saber, sentiu um peso a menos em si. Paris tinha deixado a hipótese. Por um ou dois segundos, ainda sentiu a culpa a instalar-se pelo seu desejo do dia anterior. Mas logo abanou de si o pensamento. Não queria o peso de sentir a cidade do sonho a destruir-se. Por isso, mais valia fingir que era um dia como qualquer outro.

Mas o sonho tinha morrido. A cidade que era deles, mesmo nunca o sendo, não voltaria a sê-lo de novo. Era tarde demais para fazer as malas de encontro àquele destino. Se não lhe faltara a coragem poderia ele ter escrito outro caminho. Qualquer outro teria facilmente encontrado nos olhos dela a mesma cidade noutra cidade diferente. Bastava ter querido.

Sem comentários: