quarta-feira, fevereiro 01, 2006

Quem és tu?


Quem és tu que olhas da janela com esses olhos fitos cravados de mar?
Quem és tu que me olha como se de um espelho me tratasse, tentando incessantemente encontrar as rugas que a vida te provocou com as mãos gastas do tempo?
Quem és tu por baixo do manto que te cobre e esconde, não permitindo que nós, resquícios de luz, entremos e procuremos o lugar que nos pertence?
Quem és tu ser imaginário e controlado, pedaço de mim e pedaço de vida ainda por escrever?
És eu? Quem és tu?
És a porta que se fecha e me encerra trás dela. És a redoma que me toma e transforma no que não reconheço. És o fim daquilo que eu nem sei bem o inicio.
Mas és eu? Quem és tu?
És a penumbra da sombra que me atravessa. És o pensamento solto perdido e rasgado pelas memórias dos tempos áureos que já passaram. És o estranho que se cruza comigo em cada esquina do meu caminho
Talvez eu? Quem és tu?
És o livro de palavras complicadas que não percebo mas insisto em ler. És a razão da loucura que serena na minha cama. És quem dorme ao meu lado quando as insónias incontroláveis me possuem.
Como posso ser eu? Quem és tu?
És o grito mudo que berra no silêncio de todos aqueles que me ouvem. És a estante atafulhada no meio da sala da casa que não sinto minha. És tudo aquilo que eu preferia que não fosses.
Serei mesmo eu? Quem és tu?
És a crítica por detrás do sarcasmo dissimulado que alguém ousou dizer. És o molde da escultura bela que nunca foi concretizada. És definitivamente o estar longe de estar perto do que desejo.
Sou eu... sem artifícios. Sou eu... este circo de emoções que se cruzam e me desorientam. Sou eu... mas podias ser tu.
No fundo, sou o bloco de notas que trago no bolso e a caneta já sem tinta a seu lado. Sou o tempo corroído pelo relógio quando as horas já não existem e os minutos são escassos. Sou os jeans velhos desbotados e ruços de tantas esperas na soalheira da tua porta da frente.
Sou eu mas... podias ser tu... ou quem sabe outra pessoa...

Sem comentários: