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Não sabia se aquele fosso era superável... Seria se ele fosse mais emocional, se ele fosse do tipo que se deixasse dominar pelas emoções, se ele amasse com o coração todo... Mas ele não o era. E ela sabia-o. Ele amava com a cabeça. Com ele tinha de ser tudo racionalizado. O amor, para ele, era fruto de uma profunda reflexão entre prós e contras, e de um exame até à medula das coisas. Não havia espaço para o improviso. E tudo o que saía da sua rota estipulada era um erro de cálculo, que podia pôr tudo em causa, todas as suas estruturas altamente pensadas. Tudo o que saía da sua zona de conforto assustava-o porque ele aí já não detinha o controlo. E para ele o controlo, especialmente sobre si mesmo, era o mais importante. Perguntava-se a si própria se tudo isto teria sido o resultado de algum trauma, de um primeiro grande amor... ou se teria nascido assim. Acreditava que alguém lhe tenha partido o coração para lá das palavras e que ele tenha decidido, para si mesmo, nunca mais se pôr numa posição em que tal pudesse sequer minimamente ser uma possibilidade.
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