segunda-feira, junho 11, 2007

I

Tinha quase 32 anos, achava-se uma menina na pele de uma mulher... Olhava para a sua gaveta e via aquela lingerie tão bonita que tinha comprado quase há um ano... Ainda não a tinha estreado. Tinha-a comprado para um momento especial, para uma pessoa especial mas... esse momento, passado um ano, ainda não tinha chegado. Sentia-se triste. Triste por ainda não ter o principe encantado. E o mais estranho era que, com esta idade e depois de tantas desilusões, ainda acreditava que o iria encontrar. Não se importava que lhe dissessem que era uma romântica quando ela dizia que sabia que havia por aí alguém que lhe estava destinado. Já tinha pensado tantas vezes, em relações anteriores, que aquela pessoa era a tal... para depois acabar em lágrimas...


Tinha mais uma lingerie nova... mais uma, para fazer companhia aquela. Queria tanto ter alguém para a partilhar. Mas, em vez disso, apenas tinha uma gaveta, com pó imaginário.


Deixou-se cair na cama. Pensou em todas as suas relações e encontros fortuitos. O americano que tinha sido o primeiro grande amor. Que a fez viver a história do Romeu e Julieta. Mas que, como todos os primeiros amores, tanta dor lhe causou. O francês a quem ela se entregou pela primeira vez. O surfista que lhe mostrou meio mundo mas que no fim lhe disse que viviam em mundos diferentes. O playboy que a seduziu... O engenheiro que partilhava o espirito mas não o corpo. O politico que nunca a comprendera e que nunca cumpria as promessas que fazia. Todos eles a tinham feito crescer. Todos eles a tinham feito sofrer. Com todos eles tinha desejado partilhar uma vida. E a nenhum deles mostraria a sua lingeire nova se tivesse oportunidade. Sabia que alguns deles não diriam que não... mas simplesmente não lhe interessava. Não lhe interessava um encontro fortuito. Não lhe interessa um envolvimento mais sério com casos do passado. Se já não tinha resultado uma vez não seria certamente agora que resultaria.


Dois já tavam casados até, mas isso não era impedimento nenhum para um deles, que o deixava bem claro sempre que estava com ela. Nunca deixaria de ser um playboy! O que só a fazia pensar que provavelmente quando estavam juntos ele fazia o mesmo com outra mulheres. Que ingenua tinha sido! O outro não, esse até fugia dela... nunca mais se tinha encontrado com ela, nem para um café, depois de ela lhe ter dito que não queria mais nada com ele, um ano depois de terem terminado e de ele lhe ter pedido para voltarem. Tinha dito que mudaria. Tinha dito que tinha a certeza que era capaz de fazer com que ela voltasse a gostar dele como já tinha gostado. Só queria uma oportunidade. Mas ela já não tava disposta a dar-lha. Apesar de ele lhe ter dito coisas que ela sempre anseara que ele lhe dissesse enquanto andavam... mas um ano depois já era muito tarde para as ouvir.


Os estrangeiros já não faziam parte da sua vida. Embora soubesse que podia reatar com eles se fosse ao seu encontro, no país deles. Mas essa viagem nunca se realizaria... talvez porque foram os que maior mossa fizeram. Aliás, desde aí, não houveram mais internacionalizações. Dois já eram suficientes.


O que ela queria era começar de novo. Uma nova página no seu diário. Toda uma nova história... Um romance. Uma paixão. Um amor. Algo verdadeiro. Mas o livro parecia já não ter muitas folhas...

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