Dizemos querer saber tudo, sem enfeites nem artifícios, para a podermos saborear no seu estado mais cru, e ainda mais quando já se sente o cheiro nauseabundo daquele que é o seu corpo. Será esta nossa curiosidade um rasgo de sadomasoquismo ou uma manifestação de pura sabedoria? Gostamos nós de saber todas as causas da morte daquele corpo de verdade putrefacto ou ansiamos por um estado de elevação superior que só pode ser alcançado com o conhecimento objectivo de todos os factores?
Mas o que é a realmente a verdade? Será a verdade aquilo que queremos que seja? A nossa interpretação daquilo que vemos? E se assim for, não pode a nossa visão ser toldada pelos juízos pré-concebidos de uma mente que nunca, em momento algum, foi uma tábua rasa?
E de que nos adianta saber a verdade? Saber só por saber? E quando a verdade é algo que nos faz mal, o que de bom podemos retirar de algo que sabemos que só os fará mal?! Que contentamento é esse que podemos retirar do nosso próprio descontentamento?!
E a omissão da verdade poderá ela mesmo ser considerada uma mentira? E quando a verdade se torna mentira e a mentira em verdade? Da verdade não subsiste uma natureza imutável. O que hoje o é, amanhã poderá já não o ser.
Quantos não são aqueles que ousam ignorar a verdade em prol da felicidade?! Mas será esta felicidade verdadeira quando se ignora a sua própria essência? A verdade é que se diz que o que não sabemos não nos pode magoar. Portanto, será certo concluir que a felicidade é verdadeira enquanto a sentimos ainda que baseada em mentiras, ou mesmo que não as haja, baseada em omissões de verdade. Ou não?
Mas afinal que coisa estranha é essa a que chamamos de verdade?! O que sentimos? O que fazemos? O que escondemos? O que vemos? A realidade? Mas... quantas vezes o que sentimso não corresponde ao que fazemos?! Ou o que vemos não corresponde à realidade? E nesses casos o que é verdade? Ou será que tudo é verdade com diferentes escalas, havendo verdades mais verdadeiras que outras?
Será tudo um ponto de vista?
2 comentários:
Texto e reflexão interessantes, sem dúvida. Eu acho que verdade não é um conceito singular mas sim plural. "Verdades" e não "verdade". Ela pode ser vista de vários ângulos. Ela pode ser formatada de acordo com o juízo de quem a formula. Podemos ter uma verdade formatada à RTP ou à TVI; uma verdade formatada à Diário de Notícias ou à Avante; uma verdade formatada à Sporting ou à Benfica; uma verdade formatada à tua maneira ou à de outra pessoa qualquer. Acho que depende muito das circunstâncias da vida de cada um, da forma como experienciamos e sentimos os acontecimentos do nosso dia a dia, as pessoas que nos rodeiam e os sentimentos que emanamos sobre todo esse conjunto. Muitas vezes optamos por construir a nossa verdade de um modo que nos faça sentir bem connosco próprios, afastando sentimentos de culpa, remorso ou arrependimento. Uma forma de afastar a tristeza, um antidepressivo mais rápido e eficaz, um meio de obter algum conforto para a alma perante algo que nos desilude. Como dizes, e bem, ninguém consegue ser tábua rasa em momento algum. Somos sempre influenciados pelos nossos valores, ideias, conceitos e representações colectivas. É inevitável, é humano. Infelizmente, acho que não há uma resposta certa e definitiva para esta questão. O tema é assaz complexo, como quase tudo o que respeita ao ser humano e aos seus sentimentos. Bjs
E deixa estra que o teu comentario não foi em nada menos interessante que o meu. Obrigada pela tua contribuição
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