terça-feira, setembro 15, 2015

Coração de estanho ou zinco

Desculpa, mas eu não consigo continuar com isto. Não consigo não te dizer aquilo que há tanto tempo tenho guardado dentro de mim... Não consigo continuar a fingir. Não sou capaz... Já andei por este caminho vezes a mais. E sei a onde todos eles vão dar e nenhum é de volta a mim. 

10 anos depois e continuo no mesmo sitio à tua espera, como uma miúda à espera do amor. Durante todo este tempo, esperei que um dia olhasses para mim e visses todo o teu futuro. Mas tu nunca o viste. Nunca quiseste dar esse passo comigo. E a possibilidade de percorreres o teu caminho sem mim nunca te assustou. E nunca nada me magoou tanto como isso. Amei-te como nunca amei ninguém e esperei que me amasses da mesma forma de volta. Mas tal nunca aconteceu. Nunca te confiaste a mim. E eu quis te dar toda a minha vida e depositei em tuas mãos o meu coração, confiando que o guardarias para sempre. Pensei que me darias o teu de volta para o guardar comigo e o pôr dentro de mim, no lugar do meu. Mas não mo deste e eu, sem ti, comecei a morrer lentamente. 

E esperei. Esperei que corresses atrás de mim, como eu corri atrás de ti. Mas tu nunca vieste. E de todas as vezes que ia eu em vez de seres tu a vir, morria mais um pouco. Ainda assim, sentava-me naquele nosso patamar que tinha criado dentro de mim, sempre à tua espera. À espera que viesses e te sentasse a meu lado, me agarrasses na mão e me desses um suave beijo nos lábios, e te levantasses e me puxasses para dentro da casa, a nossa casa, à nossa frente, à minha frente, à frente daquele banco onde te esperava. Mas tu nunca vieste. E por mais bilhetes que te deixasse a dizer-te como chegares a mim, ao sitio onde te esperava, tu nunca vieste. 

Quis acreditar. Quis acreditar em nós. Quis acreditar no amor. Quis acreditar no nosso amor. Quis acreditar que era possível, que éramos possiveis. Que a palavra impossibilidade era uma mera invenção de quem não tem força para lutar pelo o que realmente quer. Convenci-me que era real. Quis que partilhasses todos os meus sonhos. Quis ser o teu sonho. Quis ser o teu amor. Quis tudo segurando-me a nada.

E penso agora no que poderíamos ter sido, no que poderíamos ter tido. Se ao menos tivesses dado um passo à frente... A aliança, a gaveta, a casa, o teste, o casamento a brincar: os degraus que foram e que nunca o chegaram a ser. E bastava ter havido um sim teu. E bastava ter havido confiança no nosso amor. 

Mas nunca haverá. Nunca teremos a nossa jura e a nossa primeira dança. Será outra que ocupará o lugar que cobicei para mim e que durante muito tempo pensei que seria meu por direito. Será por ela que correrás, na esperança inconsciente de me encontrar. Mas será sempre ela. E nunca eu. Não eu. E será minha a vida que viverás com ela.

Sem comentários: