República falhada
Anda por aí uma febre mediática à volta do centenário da República, como se a data fosse algo de transcendente, como se estivéssemos a celebrar a descoberta de um jazigo petróleo ou se Portugal tivesse conquistado o Mundial de Futebol.
Confesso que não sou monárquico mas jamais serei republicano. Não me revejo nesta república das bananas que foi tomada de forma violenta e que passou pelo covarde assassínio de quem representava a anterior forma de governo. Nunca consegui ver nesta república uma solução ou um melhor conceito do que vigorou durante os anteriores 700 anos.
Portugal tem sido um cruel exemplo de uma república falhada, cujos princípios estão a décadas de se darem por cumpridos. Os utópicos republicanos, os líricos ou os fundamentalistas, esses certamente não concordarão. Mas os factos encarregam-se de os desmentir. E os factos são estes:
Em 100 anos de república, só nos últimos 30 é que o país conheceu a democracia, apesar de todas as fragilidades da mesma. Os primeiros anos da república foram tempos turbulentos, de instabilidade política, perseguições à la Afonso Costa e seus comparsas e convulsão militares, revolta e instabilidade social e económica, enfim uma autêntica anarquia própria do resultado de um desejo de mudança que não era generalizado mas apenas sectorial.
A propósito da adesão do povo à causa da república, disse então João Chagas, figura de destaque da causa republicana: "A República faz-se em Lisboa e comunica-se ao país por telégrafo". António França Borges, foi mais longe ao afirmar: "O povo irá para onde o mandarem ir".
Em 100 anos de república tivemos 71 governos. Após 100 anos de república, 10 foram de anarquia, 60 de ditadura e 30 de democracia. Em 100 anos de república, o país contínua na cauda da Europa e muito abaixo de países onde ainda prevalecem as monarquias.
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