quinta-feira, outubro 21, 2010

Ondine




Depois de nos ter dado obras como ‘Cry Game’, ‘Breakfast on Pluto’ e ‘Interview With a Vampire’, Neil Jordan regressa com um conto de fadas moderno que mistura o misticismo escandinavo, irlandês e escocês e o mistura com os dramas contemporâneos inerentes às classes baixas das zonas costeiras da Irlanda.

Assim, seguimos Syracuse (Colin Farrell), um pescador irlandês cuja vida se transforma quando ele encontra uma bela e misteriosa mulher, Ondine (Alicja Bachleda), na sua rede de pesca. A sua filha, Annie (Alison Barry), que sofre de insuficiência renal e tem de andar numa cadeira de rodas, está convencida que Ondine é uma "selkie" (criatura mitológica semelhante a uma sereia), enquanto Syracuse, ou circus como é apelidado, se vai enamorando por ela, ainda que de forma muito medrosa para não sofrer, nem fazer sofrer.

Com uma fantástica fotografia de Christopher Doyle, que captura genialmente a paisagem costeira irlandesa, Ondine é um filme na sua essência brilhante, especialmente porque mistura o misticismo das selkies com dramas bem quotidianos, apresentando assim personagens com que facilmente nos ligamos e apaixonamos.

Destaque para a fabulosa prestação dos actores. Colin Farrell é um alcoólico em recuperação, que se confessa ao padre apenas porque não existem Alcoólicos Anónimos na cidade. Já Alicja Bachleda surpreende com o seu tom misterioso, ingénuo mas também muito sofrido. No fundo, ambas as personagens têm feridas muito recentes e tentam fugir a um passado que teima em os perseguir. Repleto de química, este casal está perfeito para este conto de fadas moderno, que com uma banda-sonora brilhante, onde os sigur rós tem um papel de grande destaque, se torna um dos grandes filmes do ano e uma obra tão apaixonante como imperdível…

Uma nota final para a presença de Stephen Rea, um actor fetiche de Neil Jordan, no papel de padre. Poucos minutos em cena, mas os suficientes para criar uma personagem que é, no fundo, a única pessoa que ouve Syracuse.
O Melhor: O jogo fabuloso entre o misticismo e a dura realidade
O Pior: Estreia tarde e provavelmente em poucas salas para o que merece

A Base: Um dos grandes filmes do ano e uma obra tão apaixonante como imperdível…9/10

Jorge Pereira

Sem comentários: