A história continua exactamente onde o original acaba. Vemos a já mítica repórter, Ángela Vidal (Manuela Velasco), a ser violentamente arrastada, a título de memorando para o espectador mais esquecido. De seguida somos introduzidos a uma equipa de intervenção militar que irá entrar no prédio em busca de sobreviventes, e se o leitor se recorda, do cientista que entrara no edifício no primeiro filme. Não é preciso dizer muito mais.
À partida, o grande problema desta continuação residiria em como dar continuidade ao argumento do primeiro filme. É certo que [REC], é por natureza um filme de entretenimento, onde o grande objectivo é proporcionar ao espectador um leque de emoções fortes, capazes de levar a pessoa mais impressionável a abandonar a sala. No entanto, onde o primeiro se destacava, mais que o entretenimento visual gráfico, violento e extremamente ‘gore’, era na capacidade de envolvência do argumento. Neste segundo filme, esse sector específico e preponderante, é mais uma vez um triunfo. Balagueró e Plaza conseguem criar uma porção de novos personagens, que tal como no seu antecessor, possuem o dom divinal da ironia, sarcasmo, construindo um humor negro equilibrado com o medo psicológico e com a violência. Portanto, ao contrário de outros filmes do género, aqui nada é gratuito. A continuidade dada à história não repete a fórmula do original. Este novo [REC], transforma de forma inteligente as suspeitas que tínhamos do vírus do primeiro filme, em algo concreto. A ambiguidade sobre o que seria o vírus na primeira parte, oscilava entre o científico e o religioso, tal como muitas das dúvidas que o ser humano tem sobre variados temas ou acontecimentos da vida real. Jaume Balagueró e Paco Plaza metaforizam essa ambiguidade em [REC], e proporcionam uma resposta igualmente ambígua em [REC] 2, mas ao mesmo tempo objectiva. Como? Misturando a ciência e a religião, transformando-a num elemento simbiótico. Do género: e se a ciência e a religião conseguirem ser um só?
Para o leitor que ainda não viu o filme, as minhas palavras poderão parecer por si só, uma bacorada de alguém que às tantas andou a experimentar drogas. Mas penso que depois de verem, se poderá tornar um pouco mais óbvio aquilo que estou a escrever. É inserida também, uma nova forma de ver a pelicula. Em vez de uma câmera, somos presenteados com um sistema multi-câmera aplicado nos capacetes da equipa de intervenção, dinamizando ainda mais a visão na primeira pessoa e a interacção com o espectador. Tudo isso e mais algumas surpresas, principalmente na adopção da narrativa não linear, um pormenor interessante e fresco no desenvolvimento do filme.
[REC] 2 é um portento. Não é melhor que o primeiro – pois o factor surpresa da parte I é incontornável – mas é muito bom. Para mim, é o melhor filme do Fantasporto deste ano a par de Thirst. Muitos gritos, muitas gargalhadas, alguns piropos, palmas, proporcionando um ambiente fantástico. Tudo aquilo que volta e meia nos faz nostalgicamente pensar que o Fantasporto continua a ser único. Só ficou a faltar mesmo a presença dos autores do filme, e de Manuela Velasco como na exibição de [REC] em 2008.
Aqui deixo uma nota de apoio à organização do festival, e sobretudo ao Sr. Mário Dorminsky, que tanta luta dá anualmente para que este evento se mantenha na ‘nossa’ cidade do Porto. Mas Sr. Dorminsky, com um público assim, o esforço até que vale a pena.
NOTA:
In: Ante-cinema
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