Nunca se tinham despedido com um beijo. Todas as noites trocadas entre eles tinham-se perdido algures na despedida. Mas aquela seria diferente. Ele pedira-lhe um beijo de despedida. O primeiro. Um beijo para levar consigo de recordação. Um beijo para o acompanhar no caminho até casa. E ela hesitante deu-lho. Ofereceu-lhe o mais doce que tinha. Presenteou-o com ele. E com outros dois de seguida. Beijos esses que o faziam querer ficar e não partir como tinha de fazer. Que tolo fora ele em pedir-lhe que o prendesse, porque era isso que os seus beijos faziam: prende-lo ainda mais a ela. Mas foi. Tinha de ir. E ela, com um sorriso, disse-lhe "Até amanhã".
Mas pela primeira vez não houve um amanhã. E aqueles que foram não seriam os primeiros mas sim os seus últimos beijos de despedida. Porque algures entre o elevador e o caminho de casa tudo aquilo que acontecera naquela noite esfumou-se no entretanto. Aquele homem desaparecera. E, no dia seguinte, ela deu por si a perguntar-se se aquele homem alguma vez tinha existido, se não teria sido fruto da sua imaginação. E concluiu que o seu "amigo" tinha sido apenas uma invenção de um coração estragado e esperançoso, mas que não tinha passado disso mesmo. E aquele beijo que lhe tinha dado não era um primeiro mas sim um último. Aquele tinha sido um verdadeiro beijo de despedida.
Para ele, a diferença também não seria muita visto na noite seguinte já ter encontrado outros lábios para beijar. Pelo mesmo, não naquela noite. Naquele momento. Neste agora. Talvez mais tarde se apercebesse que não era esta aquela que beijava. E aí veria que transformara a beleza de um primeiro beijo na tristeza de um último. Que perdera o futuro quando traçara o caminho errado. Mas nada mais haveria fazer porque o último já teria sido dado nos lábios de um primeiro.
1 comentário:
Arrepiante realidade. Straight to the feels
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