Melhor de três?
Prometi a mim mesmo fazer uma análise mais imparcial, apesar de quão irritantes podem ser algumas fãs da Saga Crepúsculo. De certa forma, o clamor dos fãs foi ouvido. Acompanhado de uma verdadeira especialista e twihard já em fase adulta, nossa colaboradora Clarissa Ramos, fui ao cinema depois que o frenesi da estréia passou. Depois de mais de ano de reclamação sobre o fiasco de Lua Nova tanto de crítica quanto de público pelos próprios fãs, não só Melissa Rosenberg como o novo diretor, viram o quão adequado seria fazer algumas modificações. Devo dizer que compensou pesadamente. O filme com mais ação, mais comédia e melhor fotografia encheu os olhos de alguns espectadores e os coraçõezinhos “miguxos” das fãs, abrindo caminho para a parte final da franquia Crepúsculo.
Em Eclipse, Bella Swan está relutante em aceitar o pedido de casamento de Edward Cullen e pensando sobre as ramificações de sua vontade contínua em ser transformada em vampira pelo namorado. Para dificultar, ela tenta reatar a amizade com seu melhor amigo Jacob Black, que continua mais apaixonado do que nunca pela garota. Enquanto isso, uma velha conhecida do casal, Victoria, reúne um exército em Seattle com a ajuda do seu braço direito, Riley, para invadir Forks enfrentando os Cullen e matando Bella. Em uma tenebrosa batalha, corações são colocados a prova e destinos serão traçados.
A premissa é até mais interessante que as outras, já que alguma ação é esperada enquanto se toma como pano de fundo toda a mitologia criada pelos outros dois filmes. O diretor David Slade, do fantástico 30 Dias de Noite, sabia que tinha uma árdua tarefa pela frente, mas cumpriu a mesma com maestria. Provavelmente sendo o melhor diretor dos 3 filmes até o momento, ele soube capturar o lado sombrio da vida vampírica, a reconstrução de época, uma trilha sonora agitada mas nada clichê e de tabela uma fotografia de tirar o fôlego. Mesmo não tendo como mudar as nefastas falas que lhe dão vergonha alheia, ele conseguiu amenizar o clima “miguxo” das cenas românticas ao máximo, tentando dar o máximo de toque de realismo. Detalhe para a homenagem a George A. Romero, vide abaixo, na chegada do exército vampírico. Uma homenagem a um dos patronos do terror moderno.
Já nossa roteirista “favorita”, senhora Melissa Rosenberg, não conseguiu ficar longe de alguns clichês que assasinaram Lua Nova, mas pelo menos conseguiu reduzir um bocado. Mesmo assim, furos no roteiro e algumas falas que te fazem querer morrer de vergonha alheia estavam presentes. Aparentemente ela não aprendeu que é possível ser romântico sem pronunciar falas retardadas em um filme. De qualquer forma, ela demonstrou mais respeito aos fãs dessa vez e aos espectadores incautos. Pontos nesse sentido. Se continuar assim, é possível que até goste dos últimos dois filmes da série, Amanhecer Parte 1 e 2.
Na atuação, aí sim vimos as grandes diferenças e pessoas se sobressaindo. Bryce Dallas Howard leva um dos maiores reconhecimentos por sua atuação como Victoria, no lugar de Rachelle Lefevre, que foi demitida depois de problemas com sua agenda. Em segundo lugar, obviamente fica Dakota Fanning, novamente com participação pequena, mas arrepiante. Essa baixinha me dá muito medo, sem brincadeira. Prêmio revelação vai para Jackson Rathbone, que pela primeira vez tem uma participação grande e emocionante como Jasper Hale, vampiro misterioso que finalmente tem a oportunidade de contar sua história. Nikki Reed também tem a oportunidade de brilhar ao contar a terrível e carregada história de sua personagem, Rosalie. De resto foi tudo mais dentro do esperado possível. O trio principal ficou meio apagado, mas se tivesse que destacar dessa vez, diria que Taylor Lautner continua se sobressaindo, mesmo com as falas toscas contra ele.
E talvez um dos grandes trunfos do filme tenha sido exatamente isso, o desenvolvimento de personagens secundários. Conhecer personagens interessantes como Jasper e Rosalie, provavelmente muito mais interessantes que o próprio Edward e Jacob, é a grata surpresa do filme. Um pouco de história real, sofrida, verdadeira, em meio a tanto romance adolescente. A vida não é tão cor de rosa e preto no branco como Bella imaginava. Seria a melhor mensagem do filme. Como Rosalie diz, quando você descobre a verdade, algo passa a ser mais importante do que romance na vida… sangue. E a película consegue o feito de criar uma batalha até a morte sem derramar uma gota. Vampiros quebram como vidro e lobos não derramam sangue. Espertinhos para driblar a censura.
A tentativa de intruduzir mais comédia e ação pode ter dado certo e provavelmente vai agradar tanto fãs como para-quedistas desavisados no cinema. A cena da batalha final com certeza faz jus aos trailers e impressiona. Mesmo assim, nem tudo são flores. Fica a dica para uma adaptação mais em conta com os diálogos românticos. O filme termina com a impressão de que a história não saiu do lugar. Bella ainda está esperando para casar, ninguém transou com ninguém, nenhum personagem principal morreu, nenhuma ameaça verdadeira surgiu e tudo termina como começou. Uma trama no melhor estilo do folhetim semanal. A impressão que se tem é de que Lua Nova poderia passar diretamente para Amanhecer sem que o espectador ficasse perdido entre um filme e outro. No máximo sentindo falta de uma vampira ruiva.Veremos até que ponto Amanhecer dará uma sensação menos vazia e mais marcante a franquia.
Lembrando que não sou leitor dos livros, mas recomendaria fortemente para todos os fãs, pois as melhorias foram visíveis, apesar de não serem suficientes para agradar todo o grande público. Podem ir tranquilas miguxinhas, existe luz no fim do túnel da Saga Crepúsculo para os fãs.
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