quarta-feira, fevereiro 07, 2018

Ela.



Ela era um ser complexo. E isso era fascinante. Intrigava-o. E quanto mais a conhecia mais ela parecia não acabar. Ela não se esgotava nas palavras nem nos olhares e tudo nela tinha uma profundeza de significados e sentimentos. Ela era tão mais do que aquilo que aparentava ser… talvez por isso tivesse passado tão despercebida até então. Mas desde que os seus olhares se tinham cruzado que ela o tinha de certa forma prendido. Pensou, na altura, ser uma mera curiosidade e desrelevou o que tinha acabado de acontecer. Até ela se ter instalado de mansinho nele, sem que ele desse conta, dia após dia, crescendo e ganhando espaço. Porque cada vez que se olhavam e sorriam, não era apenas um olhar ou um sorriso que partilhavam, partilhavam-se a eles próprios um com o outro ainda que em silêncio. E quando ele lhe perguntou, finalmente, o nome, ele já não precisava realmente de o ter feito, podia muito bem lhe ter chamado sua. Porque ela já o estranhamente o era. Ela cativara-o. E fizera-o sem realmente nada fazer. Apenas por ser. E ele, ainda que tendo vivido mil vidas, nunca tinha conhecido ninguém assim. Talvez por isso fosse tão difícil explicar aquele ímpeto que sentia. Porque era cru, era bruto, era forte. E não tinha tempo nem espaço. Não tinha razão ou racionalidade. Apenas era. Existia. Tal como ela. E pesava-lhe. Pesava-lhe a solidão e o contentamento. As escolhas acumuladas por displicência. E, no seu amago, no componente da parte mais particular e intima de si, enquanto individuo, e enquanto homem, desejava ter estado pronto para ela. Para a sua chegada. Para a ter recebido com mais do que tinha agora para lhe dar. Para que nela não houvesse hesitações ou incertezas. Para que ela se arriscasse nele. Porque ela… ela poderia muito bem ser, se já não o era, aquilo que sempre lhe faltara.

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