respostas a perguntas inexistentes (157)
o equilibrista bêbado
Sei sempre que alguém me está a mentir ou, vá lá, a faltar involuntariamente à verdade, quando me diz que vive um Amor equilibrado. Ou então é de mim, que nunca me equilibrei decentemente em nenhum dos Amores que vivi. Estou sempre a cair. Na melhor das hipóteses sinto-me um equilibrista bêbado a andar no arame a dez metros de altura.
Um amigo disse-me isso hoje durante um uísque on the rocks, que vive um Amor equilibrado porque gosta tanto dela como ela dele. E eu ri-me. Se ele acha isso é porque já não a Ama. Se a Amasse ia sempre achar que gostava mais dela do que ela dele. É inevitável. Não lho disse assim, talvez por falta de coragem, mas ri-me. E ele perguntou-me abruptamente "o que é que foi?". Foi isso mesmo. Ele não está apaixonado. Não pode.
Apaixonado estou eu. O que não estou é equilibrado. A última vez que me equilibrei foi porque estava triste ou, pior do que isso, nem triste estava. Não estava nada. Nada de nada. Nem sequer embebecido. Depois apaixonei-me e comecei a andar todo torto, com vertigens e vómitos. Acho sempre que gosto mais dela do que ela de mim. Isso entorta-me. Pronto.
Tenho a certeza que se um dia destes me endireitar é porque deixei de a Amar. O Amor é isso: desequilibra-nos para que nos apoiemos em quem Amamos. O resto é fácil, quando nos deixamos de apoiar é porque não Amamos. Tão certo quanto um e um serem dois.
O que é que foi? Perguntou ele outra vez. Pedi mais dois uísques levantando o meu copo vazio. Estás bêbado, disse ele. E eu concordei. Aliás, discordei. Não estava bêbado coisa nenhuma. Sou é um equilibrista bêbado, que é diferente. Ainda bem.
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