sexta-feira, fevereiro 26, 2010

Shutter Island

Shutter Island é a arte da manipulação e sem dúvida que dá gosto ser manipulado por um filme assim.
A música, os planos, a luz, a montagem, todos os elementos conspiram para nos fazer ceder ao ambiente que o filme faz transbordar da tela e assim no fazer seguir nas direcções que a narrativa pretende seguir.

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No que toca a envolver-nos na desconfiança inata a um thriller psicológico, Martin Scorsese conseguiu o seu propósito sem grande dificuldade desde a primeira nota, mas conseguiu muito mais do que isso.
Ele conseguiu manter-nos no interior de uma trama que não se simplifica nem dá escapatórias ao público senão mesmo no seu final e mesmo aí tudo se adapta ao que ficou para trás sem precisar de um artifício de lógica.

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A resolução do filme surge porque o olhar se mantem fiel à dimensão pessoal do que sucede, à importância que tem o indivíduo.
A manipulação existe na construção cinematográfica, na forma como o filme é pensado estruturalmente, as suas partes como forma indispensável de uma experiência que seduz e ludibria o espectador sem ter de sacrificar a lógica do argumento.
A história é sobre o sofrimento de um homem. Uma história intricada, mas com um sentido incorrupto e um significado mais importante do que aquele que muitos esperarão.

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Quando Teddy chega à ilha já traz uma certa perdição consigo, um desajustamento que é palpável mas cuja causa não se consegue precisar.
Magro demais e em claro desmoronamento físico, olha para a ilha como quem mede a dimensão do adversário numa luta de beco.
Esta personagem está em confronto com o mundo, um mundo confinado e de regras muito próprias, por isso mesmo mais opressivo ainda.
E como todas as personagens em confronto com o mundo, está afinal em confronto consigo mesmo, algo que chega a passar despercebido no seio da trama mas que retorna com força redobrada graças à inteligente e discreta última cena.

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Teddy é DiCaprio em grande forma, a atirar-se ao sacrifício de uma personagem que parece estar sistematicamente a perder a substância que a define, sendo que é nesse processo que acabará por se concretizar quando tudo estiver exposto.
Uma interpretação assim não é simples, demasiado perto da caricatura que seria tanto a concepção como herói ou absoluto paranóico.
Mas ele demonstra que tem o estofo certo para o fazer.

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Num filme assim, tão dependente da sua resolução, o melhor que dele pode ficar é o nosso interesse em revê-lo, mesmo que o efeito surpresa nunca volte a ter o mesmo poder.
Revemo-lo porque nos interessam as personagens e porque, mesmo conhecendo o final, acabaremos por sucumbir à qualidade cinematográfica que demonstra que esta é, de facto, a arte do hipnotismo: por duas horas não desviamos os olhos do ecrã e nem por um momento regressamos ao mundo real.


Ler mais: http://splitscreen-blog.blogspot.com/2010/02/shutter-island-por-carlos-antunes.html#ixzz0ggnJbD3e



(In)confidência: O Leonardo DiCaprio já devia saber que não se devia meter em ilhas... já no outro filme (A praia) ele não conseguiu sair da ilha!! E digamos que tudo aquilo que têm água, ele acaba sempre por se afundar (Olha o Titanic!!). Pois é, rapaz!! Eu se fosse a ti afastava-me de sítios com água!! =P
E quanto à tua pergunta (do Leonardo DiCaprio), logo no inicio do filme, em relação ao porquê de até a CIA já ter consultado Dr. Cawley, então não se tá mesmo a ver?! Ele é o gajo do X-Men!!! =P

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