domingo, fevereiro 07, 2010

Filme woody Allen


Tudo pode dar certo (Whatever Works) marca o regresso de Woody Allen à sua cidade-fetiche, Nova Iorque. Depois de dois filmes passados em Londres (Match Point e Scoop) e de outro em Barcelona (VickyCristinaBarcelona) com a actriz Scarlett Johansson, o realizador regressa à fórmula que nos habituou ao longo de mais de 40 anos.

Desta vez é Larry David (o protagonista da sitcom Calma Larry - Curb Your Enthusiasm) dá vida às neuroses do próprio Allen. Tudo pode dar certo mostra-nos a vida de um homem rico, Boris, um homem que esteve na lista para o Nobel da Física e que nos avisa logo no início do filme que este não é um daqueles filmes que as pessoas vão ver para se sentirem bem.

Boris Yellnikoff (Larry David) é um velho rabugento que tem o hábito de insultar seus alunos de xadrez. Ex-professor da Universidade de Columbia, ele considera ser o único capaz de compreender a insignificância das aspirações humanas e o caos do universo. Ele é um senhor bem rabugento, que reclama dos amigos, reclama da aposentadoria, reclama das viúvas, reclama dos programas de televisão, reclama dos jovens, reclama da geladeira, reclama de si mesmo, reclama, reclama e reclama... É demais pessimista, daqueles que culpam tudo e todos pelo fracasso da humanidade, pela ignorância dos seres humanos, pela burrice que se alastra cada vez mais, pela pouca inteligência das pessoas. Hipocondríaco, está sempre à procura de um paliativo pros seus males. É quase um paradoxo, acredita na ciência, no poder dos medicamentos e condena os que pedem ajuda aos céus, mas não deixa de lavar as mãos cantando duas vezes a adorável “parabéns pra você”, já que só assim se é capaz de eliminar totalmente as bactérias, segundo seu Transtorno Obsessivo Compulsivo.

Um dia, prestes a entrar em seu apartamento, Boris é abordado por Melodie St. Ann Celestine (Evan Rachel Wood), que lhe implora para entrar. Ele atende ao pedido, a contragosto. Percebendo a sua fragilidade, Boris permite que ela fique no apartamento por alguns dias. Ela instala-se e, com o passar do tempo, não aparenta ter planos de deixar o local. Até que um dia lhe diz que está interessada nele. Ela é uma dessas mocinhas bobas, cheias de sonhos, sem muita maldade no coração e com nada de senso. Você fala, ela acredita. Você inventa uma teoria, ela faz disso uma lição de vida. Super disposta a colaborar e a aprender. Saiu de sua rica casa no interior, pra viver uma aventura qualquer na Big Apple. Há um espírito de liberdade nela, só não um discernimento para isso. Não pensou em trabalho, nem em moradia, nem em perigo, nem pensou em nada, aliás, há alguns anos ela não vinha pensando. Eis então que encontra Boris e pulft! Como resistir a uma doce menina pedindo um lugar pra ficar enquanto há frio e fome e pessoas más lá fora? E Melodie cresce muito com a companhia de Boris. Música clássica, teorias disto e daquilo, culturas, autores e afins. Ela torna-se uma pessoa crítica, exigente com o mundo, tal como ele, mas ainda doce e simples.

Na união mais improvável, tornam-se marido e mulher. Mas ainda menos provável é a viragem da vida da mãe da rapariga (Patrícia Clarkson), uma fanática religiosa que surge em Nova Iorque à procura da filha, após ter sido abandonada pelo marido (Ed Begley Jr.). Como não podia deixar de ser, o marido infiel vem também a surgir em Nova Iorque, profundamente arrependido e determinado em reconquistar a sua mulher, numa altura em que esta já não está minimamente para aí virada. E aí todos começam a reavaliar todo o conceito de suas vidas. Uma reaçcão em cadeia que envolve desprendimento de antigos pensamentos, trocas, aprendizado e tudo o mais. E todo o pessimismo ainda existe, todas as manias, todo o sarcasmo de um mundo falho e uma humanidade errónea, mas que, sobretudo, vive por um bem comum. Porque a vida adora contrariar as teorias, adora nos desmentir e nos pregar algumas curiosas peças. Porque o “Universo é um acaso cego sem sentido”, provando que ainda que tudo pareça conspirar pro lado errado, tudo pode mesmo dar certo.

"Tudo Pode Dar Certo", o nome adoptado em Portugal para o filme, embora também se enquadre dentro da história, fica bastante aquém do original ("Whatever Works") que consegue transmitir bastante melhor a "moral" subjacente, segundo a qual "tudo o que funcione para ti", por mais inapropriado ou absurdo que possa parecer, desde que te faça feliz... é o que interessa.



Sem comentários: