sexta-feira, maio 15, 2009

Concerto de Antony and The Johnsons

Estranho como sempre, Antony Hegarty ofereceu mais um concerto soberbo ao público lisboeta. Duas ovações de pé foram a retribuição.

Já não é estranho ao público nacional, mas cada vez que vem atrai um número maior de pessoas na plateia. Os que tiveram o privilégio de assistir à actuação do projecto Antony and the Johnsons em Lisboa, em 2004, na primeira parte das CocoRosie no Lux, só podem ter tido a certeza de que uma estrela estava pronta a nascer. Estavam certos. Por muito excêntrico que pareça, a figura de Antony Hegarty consegue aliar uma voz portentosa a uma capacidade comunicacional fora do normal para alguém que, apesar do tamanho, parece ser sempre demasiado frágil.

O palco do Coliseu dos Recreios recebeu o novo Antony, que ao fim de três álbuns resolveu dar voz ao seu lado mais feminino (sempre lá esteve, mas finalmente rompeu a pele) e agradecer à mãe natureza, sua criadora. Como o cantor explicou antes de apresentar "Everglade", um dos momentos mais épicos de The Crying Light , o novo álbum, "Fui educado na religião católica, mas só aos 35 anos percebi que afinal tinha nascido da natureza". É esta nova noção (que lhe foi ensinada por Björk, revelou em entrevista à BLITZ há uns meses) que marca uma nova personagem luminosa.

Ao longo de duas horas de concerto (nas quais se inclui um encore) o cantor e uma banda inexcedível percorreram os melhores momentos da carreira, não esquecendo sequer o belíssimo "I Fell in Love with a Dead Boy", resgatado bem ao início do percurso. A voz de Hegarty, mais contida, como o próprio viria a confessar (depois de um momento "old school" num "Cripple and the Starfish" de arrepiar os cabelos da nuca) pairou entre o veludo de "One Dove", a acidez de "Shake That Devil" e os rendilhados labirínticos de "Her Eyes Are Underneath the Ground".

Sempre sentado ao piano de cauda, Hegarty passou metade do concerto calado, mas quando o gelo quebrou, embeveceu o público com as suas histórias tresloucadas de canções como "Another World" ou "Hope Mountain", um dos picos criativos do EP Another World , em que fala de Jesus Christina, a encarnação feminina de Jesus Cristo, que virá à terra num futuro próximo. Isto depois de contar que estava em Portugal há uns dias e que andou pela Serra de Sintra em contemplação da natureza - de todas as espécies de árvores e plantas que o fascinam.

O novo álbum ganha um poder em palco que faz as canções crescer bem mais que em registo gravado. As tonalidades jazzy emprestadas por um baterista/percussionista meticuloso e um saxofonista entusiasta contagiaram temas antigos, com novas e belas roupagens, como "For Today I Am a Boy", "You Are My Sister" ou "Fistful of Love".

"Epilepsy is Dancing" e, especialmente, "Twilight", muito bem recuperada do primeiro registo longa-duração, foram alguns dos momentos mais altos de um concerto que terminou belissimamente com as duas canções mais fortes do repertório do projecto: "Cripple and the Starfish" e o muito aguardado "Hope There's Someone". É a voz do novo milénio, Antony Hegarty é um artista ímpar que se fez rodear de um colectivo de músicos que o acompanha à altura. Sem pruridos, assumimos que Antony e os seus Johnsons devem insistir até conseguir evangelizar todos aqueles que ainda lhes resistem. Porque eles são irresistíveis.




(In)confidência: Um concerto sem dúvida diferente, mas que eu gostei!! E não fui a única, porque o Coliseu esgotou e o público estava ao rubro com esta personagem que, durante a maior parte do concerto, me intrigou se seria um homem ou uma mulher, mas ele/ela próprio(a) acabou por me dar a resposta =)
O concerto começou com uma rapariga estranha que "dançava"... Sinceramente não vos consigo explicar melhor, só mesmo estando lá. Do concerto em si gostei da sonoridade e achei o Antony uma pessoa muito particular e interessante. Ele chegou mesmo a nos confidenciar uma ideia que teve sobre a segunda vinda de Jesus à Terra mas, que desta vez, Jesus seria uma rapariga, uma rapariga do Afeganistão... Umas ideias interessantes...
Com o patrocinio da TMN.

3 comentários:

Teresa Domingues disse...

Um génio ...
Uma noite memorável ...

:)

EfeitoCris disse...

mas tu vais a tanto lado...bolas não me queres por em Bcc para eu participar tb com a stuas respostas....?

beijo

Marta da Cunha e Castro disse...

Este era só para moches...