sexta-feira, junho 23, 2017

Buraco Negro


E ela gritava pedia e esbracejava de dentro do poço, precisava de ajuda. Estava cansada de ter sempre de ser ela própria a desenvencilhar-se. Estava farta de se sentir sozinha. Precisava de ser salva. Nem que fosse apenas para equilibrar o prato da balança. Precisava de saber que podia contar com isso, que se não conseguisse que alguém viria em seu auxilio. Mas ele não vinha, nunca chegava. Ele limitava-se a olhar para ela, sem nada fazer, à espera que ela própria saísse. Não lhe estendia a mão ou muito menos lhe dava palavras de encorajamento. E ela, morria a cada palavra que proferia, porque só se acumulavam em si a mágoa a dor e a frustração de quem nunca é ouvido. E ficava pequena, cada vez mais pequena, até ficar minúscula. E aí não havia força ou tamanho ou vontade de sair do buraco. Porque o buraco tornava-se ela, escuro e vazio. O buraco vinha de dela, de dentro para fora. Como se de um buraco negro se tratasse, que tudo consome, que tudo destrói. Mas que só a destruía a ela. E talvez a ele, sem que ele próprio se apercebesse disso. É que a cada passo que não dava, também ele se encolhia. Também ele se auto-destruia.

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