Vivemos numa época em que tudo está e é muito mais simplificado pela tecnologia que nos rodeia. Os telemóveis, os computadores… Poupamos tempo e trabalho, e temos a vantagem de podermos ter tudo à distância de um mero clique. Trabalhamos, fazemos compras, brincamos, falamos… Temos até mesmo vida paralelas em que podemos ser uma versão de nós mesmos ou outra pessoa qualquer, atrás de um ecrã que apenas mostra o que nós escolhermos mostrar. E é por isso que a tecnologia não é neutra. Porque ela própria cria realidades. Ela interage com os outros e configura relações. E transforma o nosso modo de viver e de conviver. E se, por um lado, isso é uma vantagem, porque encurta as distâncias entre as pessoas, não nos podemos esquecer que tudo tem o seu reverso da medalha. E, no final do dia, aquilo que conta, é o uso que lhe damos.
Senão vejamos, posso muito bem dar um exemplo tão simples quanto este: eu sou de um tempo em que não havia telemóveis e não me lembro sequer de uma única vez em que se combinasse qualquer coisa e que as pessoas não aparecessem todas ou até que chegassem atrasadas. Porque havia um cuidado diferente com o outro. Um cuidado que hoje muitas vezes não há, apesar da maior facilidade que existe agora. Quantos de nós já ficaram à espera de alguém que não apareceu e nem sequer avisou (ou pelo menos não em tempo útil)?! Pois, e esse alguém podia muito bem ter mandado uma mensagem. Mas a longura e frieza da tecnologia leva a que haja também, muitas vezes, uma desumanização dos sentimentos. Encurta-se-nos a sensibilidade de saber como gerir perspectivas e percepções, porque quando estamos longe não contabilizamos a dor do outro lado, o dano colateral. Há toda uma distância que nos separa. É uma outra realidade virtual. Por isso, cabe-nos a nós desintricar o fio que muitas vezes se embaraça quando nos une.
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