sábado, fevereiro 06, 2016

Esta não é uma carta de amor.


Esta não é uma carta de amor. Esta é uma carta para ti, meu amor. A ti que eu nunca te chamei de tal.
É a primeira que te escrevo. Pelo menos verdadeiramente. Já te escrevi aqui e ali. Já nos escrevi aqui e além. E já me escrevi aqui e demais. Mas nunca te escrevi assim.
Gostava de te dizer que não será a última, meu amor. Gostava de te dizer que esta é apenas a primeira de todas as outras que te escrevei ao longo da nossa vida. Mas ambos sabemos que estaria a mentir. Parece que a vida teve outros planos para nós.
E eu sei que não é em papel, como deveria de ser. E que nem sequer vai ter direito a envelope. Mas também não saberia para onde a enviar, verdade seja dita. E, com a sorte que temos, provavelmente iria parar à caixa de correio do teu vizinho do lado. Sempre foi assim connosco. Sempre tão perto e tão longe ao mesmo tempo.
Mas não deixa de ser bonita a ideia de te escrever, meu amor. Ou não fossemos nós do tempo das cartas... Tu mais do que eu. Vá, não fiques rezingão. Sabes o quanto eu te adoro arreliar ao brincar com a nossa diferença de idades, mas não o faças agora. Peço-te. Não é o momento.
Tanto que podia-te falar de todas as coisas tristes, mas escolho não o fazer. Já não há mais espaço em nós para elas... Prefiro guardar apenas o que é bom de guardar. Por isso, meu amor, esvazia-te a mala também. Para onde vamos não precisamos de a levar.
Apenas te escrevo para te dizer entre linhas aquilo que nunca fui capaz de dizer em palavras, na esperança que o teu coração oiça melhor o silêncio meu.
Mas desculpa, menti-te. Disse-te que esta não era uma carta de amor. Não era suposto. Aconteceu.

1 comentário:

Anónimo disse...

Adoro a maneira como brincas com as palavras como se de um lego se tratassem, como constróis cenas para a imaginação lá actuar.

Continua