"Eu poderia. Claro que eu poderia. Mas não nasci assim. Não gosto do futuro do pretérito. Eu gosto de tempos simples. Nomes simples. Pessoas simples. Eu gosto do presente. Do agora. Do meu presente imperfeito. Sei que meu tempo não está na gramática. Sei que meu desejo está fora da regra. Mas está em mim. Esse é meu tempo. Meu verbo é sentir. E eu sinto. Sinto muito. E sei que tu sentes. E eles - que nem sei quem são - também sentem. Te pergunto: porque não conjugamos a vida de uma forma diferente só pra variar? Porque não damos as mãos numa ciranda-cirandinha bem lálálá e nos tornamos clichês de livro de auto-ajuda? Eu gosto da idéia. Nosso tempo depende de nós. Não vou dizer: nós poderíamos. Muito menos: se nós pudéssemos. Isso é celebrar o medo. Conjugar o verbo desistir, que já foi tirado da lista. E - cá pra nós - a gente não vai desistir. A gente não desiste. (Não tão fácil). Eu sei que dá vontade
Eu sei que ninguém acorda feliz todo dia. Mas nós precisamos. Eles precisam. Eu preciso. Preciso acordar e acreditar. Entende? Por isso, pelo menos hoje, vamos fazer um trato. (Quem sabe a gente acostuma?). Vamos esquecer os passados-perfeitos. Vamos parar de pensar no futuro-mais-que-perfeito que você (nem eu) conseguimos enxergar. Vamos olhar o outro que está ao nosso lado, abrir o coração e dizer com toda a cara de pau do mundo: Nós podemos. E ponto final".
Fernanda Mello
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