odeio a gaja
Hoje adormeci no comboio e sonhei que tinha casado com a Branca de Neve. Felizmente acordei na estação em que era suposto sair e o pesadelo acabou. Odeio a Branca de Neve, mesmo que a nossa relação não tenha passado de um sonho de alguns minutos.
Aliás, mesmo antes de acordar ela saiu batendo a porta com força. Tínhamos discutido sem motivo, e as discussões sem motivo significam sempre que já não há Amor. Tanto quanto me lembro, já não tínhamos sexo há algumas semanas, e ela protestou comigo porque eu não tinha posto sal no jantar. Esqueci-me, disse-lhe eu enquanto lhe passava o frasco de sal fino para as mãos. Ela atirou-o para o chão e respondeu que estava farta de me aturar. Saiu, deixando na sala um silêncio bruto que me entorpecia os ouvidos e o coração.
Deixei-lhe um bilhete de despedida na porta do castelo, uma nota em que lhe pedia desculpa por a ter acordado do prazer de um sono longo:
Apaixonei-me por ti enquanto dormias porque não fui capaz de te imaginar acordada. Ninguém se deve apaixonar por alguém que dorme. Esse é o erro dos erros porque também é o erro do Amor. A paixão não deve nascer no sono, deve nascer numa bebedeira de vinho e numa noite de sexo. Desculpa pela minha parte. Podes ficar com o castelo, eu fico com o cavalo.
Actualmente odeio-te como tu me odeias a mim. É normal, o Amor só se pode transformar em duas coisas quando deixa de ser Amor: amizade nostálgica ou ódio visceral. Beijinhos
P.S. No frigorífico está uma mousse de chocolate e não me esqueci de lhe pôr açúcar (não é ironia).
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