quinta-feira, fevereiro 28, 2019

Conselho:

Deixa sempre uma porta aberta para o extraordinário.

terça-feira, fevereiro 26, 2019

Gostos

Gosto de viajar. Gosto de voar. Gosto de aeroportos. Gosto de observar as pessoas que chegam e as pessoas que as recebem nas chegadas dos aeroportos. Gosto de ir. Gosto de voltar. Não gosto de partir. Gosto de conhecer novas culturas. Gosto de conhecer novas pessoas. Gosto de pessoas que sabem mais do que eu. Não gosto de conversas de chacha. Gosto de conversas profundas. Gosto de conversas sobre tudo e o nada. Gosto de saber como era a vida antigamente. Gosto de aprender. Não gosto de me sentir burra. Gosto de animais. Gosto de pessoas. Sinto que gosto cada vez mais de animais do que pessoas. Gosto de gostar. Gosto de amar. Gosto de estar apaixonada. Não gosto de sofrer de amor. Não gosto de chorar. E tão pouco gosto que me vejam a chorar. Gosto de estar lá para os outros. Gosto que estejam lá para mim. Gosto de ser o ombro amigo. Quando gosto gosto sempre muito, não sei gostar pela metade. Gosto de ser impulsiva. Gosto de tentar. Gosto de arriscar. Não gosto de falhar. Não gosto de desistir. Gosto de refilar. Gosto de ser curiosa. Gosto de uma boa cusquisse. Gosto de ouvir as conversas dos outros. Gosto de imaginar histórias para as pessoas que não conheço. Gosto de fazer perguntas. Não gosto de não obter respostas. Gosto de entrevistas. Não gosto de ser entrevistada. Não gosto de não me saber vender. Gosto de desafios. Gosto de lutar. Não gosto de coisas demasiado difíceis. Não gosto de coisas demasiado fáceis. Gosto de dizer que não. Não gosto de ouvir nãos. Gosto de rir. Gosto de sorrir. Gosto de sorrisos. Gosto de fazer rir. Gosto do meu sentido de humor. Gosto de ser torta. Gosto de não ser igual. Gosto do que é diferente. Gosto do peculiar. Gosto de beijos. Gosto de abraços. Não gosto que me toquem desnecessariamente. Não gosto de pessoas demasiado perto de mim em filas. Não gosto de filas. Não gosto de trânsito. Não gosto de atrasos. Não gosto de me sentir presa pelo tempo. Gosto de relógios. Não gosto de quando é tarde. Gosto da noite. Gosto de céus estrelados. Gosto de pôr-de-sóis. Gosto de romantismos. Não gosto de ser uma romântica. Gosto de surpresas. Gosto de jantares à luz da vela. Gosto de bilhetinhos de amor e clichés. Gosto de passeios na praia. Gosto da praia. Gosto do barulho das ondas. Gosto de ir à água. Não gosto de entrar na água. Gosto de nadar. Não gosto de nadar com ondas. Não gosto de ter medo. Gosto de tomar banho. Gosto de ficar debaixo da água no chuveiro. Gosto de ficar com rugas nos dedos do tempo que me demoro no banho. Não gosto de sair da banheira. Gosto de me deitar despida dentro da cama. Gosto de sentir os lençóis na pele. Não gosto quando a cama está fria. Gosto de dormir acompanhada. Gosto de fazer ronha na cama. Não gosto de ficar doente. Mas gosto de comer canja de galinha quando estou. Não gosto da chuva. Gosto de ver chover lá fora. Gosto de saltar nas poças da chuva. Não gosto de ficar molhada. Gosto do Inverno. Gosto da neve. Não gosto do frio. Gosto do verão. Gosto do calor. Não gosto de demasiado calor. Gosto de andar de vestido. Gosto de me sentir bonita. Não gosto do tempo que perco a arranjar-me. Gosto que me digam que estou bonita. Gosto que olhem para mim. Gosto que me olhem nos olhos. Gosto de olhar nos olhos. Gosto de provocar. Gosto de causar reacção. Gosto de roupa nova. Gosto de ir às compras. Gosto de experimentar roupa. Não gosto de deixar a roupar a arranjar e voltar de mãos vazias para casa. Não gosto de levar os sacos das compras. Gosto de ter as mãos livres. Gosto de tocar. Não gosto de não saber tocar nenhum instrumento. Gosto de música. Gosto de ir a concertos. Não gosto do preço dos bilhetes. Gosto de cantar. Gosto de dançar. Gosto de sair à noite. Gosto de estar em casa. Gosto de preguiçar no sofá. Gosto de preguiçar no sofá. Gosto de ter tempo. Não gosto de não ter nada para fazer. Gosto de estar ocupada. Gosto de ler. Gosto de ter livros. Gosto do cheiro dos livros. Não gosto de ler em meios digitais. Gosto de escrever. Gosto de pensar que há mundos alternativos e que sou mais feliz neles. Gosto de ir ao cinema. Gosto de romances. E de filmes de animação. E de filmes de terror. Gosto de séries. Não gosto de não encontrar os episódios que quero. Gosto de moda. Gosto de tatuagens. Gosto de piercings. Gosto de fotografias. Gosto de arte. Gosto de ir a museus. Gosto de fotografar. Gosto de aparecer em fotografias. Gosto de fotografias antigas. Gosto do antigo. Gosto de história. Não gosto de saber tão pouco de história. Gosto de palavras que não conheço. Gosto de palavras que não tem tradução noutras línguas, como a palavra saudade. Não gosto de despedidas. Não gosto de correr. Não gosto de ginásios. Não gosto de pessoas que são bonitas a fazer exercício físico. Gosto de desporto. Gosto de actividades radicais. Gosto de fazer coisas novas. Gosto de me aventurar. Não gosto de dias iguais. Não gosto de rotina. Gosto de hábitos. Gosto de saber o nome das pessoas. Gosto que saibam quem sou. Gosto que o homem do café saiba o meu nome e o que vou pedir antes de o fazer. Não gosto de cozinhar. Gosto de jantar fora. Não gosto de restaurantes barulhentos. Gosto de me sentar a ter uma boa conversa. Gosto de falar. Gosto de ouvir. Gosto de vozes. Não gosto de gritos. Não gosto de quando grito. Não gosto de quando me chateio. Não gosto de discutir. Gosto de fazer as pazes. Gosto de ter razão. Gosto de coerência. Gosto de ser incoerente. Gosto da pessoa que sou. É bastante simples, na verdade.

quinta-feira, fevereiro 21, 2019

Matemáticas do Coração


Ele era um matemático da vida. Para si todas as variantes e variáveis tinham de estar equacionadas. Por isso não fazia sentimentos. Dizia não acreditar no amor. Tudo o que pudesse fugir do seu auto-controlo era descartado à partida. Preferia subtrair-se à possibilidade de um coração partido do que à soma de uma probabilidade. Por isso, passava pelas pessoas altivo e arrogante, como se fosse dono do mundo e tivesse descoberto a fórmula da sobrevivência, mas enquanto o fazia esquecia-se que não estava a viver. Entretido no dia-a-dia de sempre não via passar por si a acumulação de dias insignificantes por não ter com que os partilhar. E, embora o soubesse lá no fundo, recusava-se a admitir que estava terrivelmente sozinho, porque simplesmente não deixava ninguém entrar. Tinha-se construído de muros e barreiras contra o mundo e contra os outros, e era tão mais fácil ser uma fortaleza sozinho do que acompanhado. Não podia dar a outra pessoa a fraqueza de o poder atingir. Não se dividia. Por isso mantia um certo grau de distância, que o protegia. Tinha criado uma redoma de segurança para que ninguém entrasse, mas também de onde não conseguia sair. E aquilo que acreditava que o estava a salvar, só o castrava na realidade. Porque a praticalidade das suas reacções só apagava qualquer sentimento à nascença. Não havia qualquer espaço para o impulso, para a paixão. Para amar. Racionalizava as acções e isso impedia-o de sentir. De ser. De pertencer. Não via que insistir em alguém era exaustivo e que era esse o motivo pelo o qual ninguém ficava tempo suficiente para lhe mostrar diferente. A mudança teria sempre de vir de dentro e não de fora. E enquanto ele não o deixasse ninguém seria aquilo que ele realmente precisava. Não sabia que enquanto não permitisse a si próprio sentir a vulnerabilidade de um coração que sente, nunca descobriria o que é realmente ser uno ao partilhar-se. Até lá, faria o mesmo de sempre, tentaria enganar-se um pouco mais.. controlando o resultado de todos os seus passos pré-analisados, esperando que continuasse a resultar como até então.

sexta-feira, fevereiro 15, 2019

Mentiras

Uma coisa é certa, odeio mentiras. Sejam elas grandes ou pequenas. Porque não é o tamanho que define a mentira. E não sei (nem quero!) lidar com mentiras. Para mim, em qualquer tipo de relação, tem de haver honestidade e confiança. Sem isso não se constrói nada. Claro que há mentiras piores do que outras, mas a verdade é que todas elas continuam a ser mentiras. E embora possa haver muitas verdades, quantas interpretações próprias, a mentira será sempre a distorção consciente da verdade ou de uma dessas verdades. E eu, prefiro mil vezes uma verdade incomodativa a uma mentira piedosa. Prezo a honestidade acima de tudo, mesmo que não seja a mais conveniente. Prefiro jogar com as cartas que tenho na mesa, saber com o que contar, do que manipular o jogo para que o resultado me seja mais favorável. Escolho basear as minhas atitudes em algo real mesmo que essa realidade seja bem mais imperfeita do que aquilo que gostava ou até mesmo que imaginei.

E não consigo deixar de pensar em porque é em que as pessoas mentem... E aqui podemos chegar a diferentes conclusões... Algumas por falta de carácter, outras por medo do que o outro irá pensar, ou até de se exporem, ou porque é mais fácil, outras ainda por algum convénio social… E certamente por muitas tantas outras razões. Mas porque achamos que temos de mentir?! Para não magoar os outros ou porque a mentira nos é mais conveniente? É que, ao que parece, é mais fácil sermos outra coisa qualquer (que achamos que devemos ser quando mentimos) do que nos próprios. Ainda assim, porque é que se não queremos dizer algo não o dizemos simplesmente ao invés de dizer uma mentira? Podemos sempre optar pelo silêncio ou pela não resposta, se não temos em nós a coragem ou a vontade de sermos directos e honestos. Porque de nada nos vale o medo de sermos julgados. Independentemente do que dizemos seremos-lo sempre. E eu prefiro ser julgada pelo que sou. E mais, sinceramente aquilo que possam pensar sobre mim pouco me interessa porque estou certa de quem sou. Não preciso de uma qualquer validação externa para me sentir bem comigo própria. E o que penso ou o que sinto só a mim me diz respeito.

quarta-feira, fevereiro 13, 2019

Deixa.


Deixa-nos voltar àquela primeira noite. Deixa ser manhã e fica um pouco mais comigo. Esquece os planos. Deixa-te levar. E depois, leva-me tu. E, no fim, demora-te no abraço, lutando contra a vontade de ficar. E olha-me. Passa-me a mão timidamente no rosto, e dá-me o beijo que os teus olhos me prometem. Arrisca-te em mim. Mesmo não acreditando, mesmo querendo tempo. Mesmo achando que o certo é qualquer outra coisa. Encontra-te em mim. Deixa. Deixa que me encontre em ti. Encontra as palavras que não tens, que normalmente não usas. E dá-mas. Partilha-te comigo. No agora. Sem medos do passado e sem pensamentos do futuro. Deixa-nos ser apenas. E seremos o que formos. Uma promessa de nada e tudo. Se deixares.