quinta-feira, março 15, 2018

Sonhemos com a cabeça


Quando sonhamos com um amor, sonhamos com um amor perfeito, liberto de qualquer defeito ou ruga ou feiura. Projectamos um amor impossível, improvável e quase irreal. Mas é normal. Todos os sonhos são feitos de irrealismos e impossibilidades. Uns mais que outros, claro. Mas se eles servem para nos guiar, para nos dar um intento, um destino, também podem muito bem servir para nos afogar e arrastar com eles, destruindo-nos qualquer possibilidade de felicidade. Por isso devemos ser um pouco mais terra-a-terra quando pomos a cabeça nas nuvens. Não digo que tenhamos que nos contentar ou sonhar em menor escala, digo sim para não almejarmos o inalcançável, para termos a inteligência emocional de desejar o concretizável, ou viveremos sempre no que poderia inverdadeiramente ser sem nunca verdadeiramente viver no que realmente é e que pode ser. Porque depois, tudo o que teremos, de todas as vezes, será sempre um sentimento de profunda lacuna. E estou certa do que digo pois, todos nós de uma forma ou de outra almejamos pertencer a alguém. Juntos somos mais. E sim, sei que parece apenas uma frase, um slogan qualquer, mas é a mais simples e verdadeira das verdades, passando o pleonasmo. Porque o ser humano é um ser social, um ser de afectos, e não um bicho cavernal que se reveja na solidão. Claro que gostamos de ter os nossos momentos de sossego, em que estamos apenas connosco próprios, o que é mais do que normal, mas isso não é solidão. Solidão é quando temos daquela tristeza que se acumula nos ossos e que nos faz querer desaparecer na insignificância da nossa existência. E o amor, se é cura também pode ser doença. Portanto, sonhemos. Mas sonhemos mais com a cabeça do que com o coração.

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