Hoje adormeci contigo no meu pensamento. Sem a tua autorização, levei-te para a cama comigo e permiti-me fazer-te meu. E ali concretizei todas as minhas fantasias e desejos. E tu, quiseste-me com a intensidade de quem ama pela primeira vez. Foste tudo aquilo que eu imaginei que serias. E, sem tempo contado, sem tempo que nos prendesse ou castrasse, perdi-me em ti enquanto te perdias em mim também. Deixei que me fizesses tua enquanto finalmente tive a coragem de admitir a mim própria que me tinha apaixonado por ti. Porque agora, ali, em ti, em nós, estava segura. Os teus braços, o teu peito, o teu abraço, eram agora o mundo em que podia viver e repousar sem qualquer medo do amanhã. Por isso, passei a noite toda contigo. Amei-te e dormi a teu lado. Ouvi-te dizer-me o quanto me querias, a mim e não ao meu corpo. Senti-te os olhos a pousar em mim e os lábios a falar-me enquanto me beijavam uma vez mais. Tão tua e tu tão meu. E, enquanto descansava a teu lado, com a cabeça na almofada, imaginei-nos mais um pouco, num talvez futuro. Porque o amanhã era doce. E o teu gosto em mim era algo que eu queria continuar a saborear. E, de mão no teu peito, sobre o teu coração, tentei sentir-te uma vez mais, meu. E adormeci. Quando acordei já não lá estavas. Tinha apenas em mim a memória do que tínhamos partilhado. E não consegui evitar de sorrir. Tínhamos sido. Em segredo, mas tínhamos sido. E embora tivesses partido, sabia que, talvez, à noite, voltasses a mim. Deixei-me ficar cinco minutos mais com o pensamento de ti e depois levantei-me e abandonei-te na cama, sabendo que logo esperaria novamente por ti.