Tenho pena que não saibas ler, que nunca tenhas aprendido. Porque sei que se soubesses te teria escrito muitas palavras.
Sabes, para mim, sempre foi mais fácil pôr as palavras no papel que na voz. Parece que na voz há sempre algo que se perde, que se esquece... e no papel as letras sucedem-se umas atrás das outras, e podem ser lidas vezes sem conta, mesmo quando eu não estou. E depois de eu me ir, elas continuam lá, como uma eternização de mim, como uma continuação daquilo que sempre quis ser.
Sabes, nunca haverá nada mais certo como aquilo que te escrever. Uso sempre o papel como um espelho que vê para lá do que é visível aos outros. Sou mais eu na tinta derramada nas letras que extraem o sentimento do que nas palavras pronunciadas que morrem logo no silêncio seguinte.
Por isso, tenho pena. Tenho pena que não saibas ler, que nunca tenhas aprendido. Porque sei que nunca terás a oportunidade de me ler.
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