sexta-feira, setembro 30, 2011

Republicar "Não compreendo as mulheres"

esta noite dormimos juntos e não fizemos Amor

from não compreendo as mulheres


Esta noite dormimos juntos e não fizemos Amor. Há bocado disseste-me qualquer coisa como "Estás a ver que és capaz?" e eu não percebi onde querias chegar. Só agora, que me beijaste a testa e me chamaste melhor amigo é que fiquei esclarecido. Estavas a dizer que eu sou capaz de dormir contigo sem sexo.Já te vi nua duas vezes. Do lado de cá e do lado de lá do espelho, mas fechei os olhos para não enfrentar a realidade. Eu Amo-te e tu não me Amas a mim. Pior ainda, eu Amo-te mas não sou suficientemente bom para que tu me Ames a mim. Só assim se justifica a falta de paixão por um homem que até consegue ser o teu melhor amigo.
O gato arranha a porta e tu abres uma frincha para o deixar entrar. Do lado de lá está o mundo para onde eu não quero ir, que me apetece ficar contigo neste quarto para sempre. Sentas-te com o felino ao colo na cadeira de balanço que já foi da tua avó, e eu sei que lhe estás a fazer festas enquanto eu finjo que durmo. Finjo para adiar o mais possível a conclusão de que passei a noite contigo sem te tocar. É só isso. E agora é o gato que está a ocupar o meu espaço. O teu corpo.
No chão ainda estava uma garrafa de vinho e os dois copos vazios da noite também vazia. Aproveito o momento em que os levas para a cozinha para me levantar, vestir e sair de casa. Digo-te adeus da porta sem te beijar e ainda por cima tu achas isso normal. Adeus, respondes. Vou embora com a convicção de que tu, apesar de estares tão sozinha quanto eu, não sofres de solidão. Desço os quatro andares tão zangado quanto apaixonado, e com uma estranha sensação de que estou a voltar a pôr os pés na terra. É uma merda e um alívio ao mesmo tempo.
Repito, durante cinquenta e seis degraus e em câmara lenta, o dormimos juntos e não fazermos Amor. Eu a abraçar-te e tu a afastares os meu braços de forma decidida. Eu a tocar-te com os dedos dos pés e tu a dizeres que estão frios, enquanto te embrulhas ainda mais nos cobertores de forma protectora. Boa noite, dizes como que para acabar com os meus avanços. Boa noite, respondo. Depois viro-me para o outro lado e adormeço também.
Repito, ao abrir a porta do prédio apenas na terceira e nervosa tentativa, a tua frase que me despertou: "Estás a ver que és capaz?".
Não, não sou capaz. Só se me obrigares. É manhã. Esta noite dormimos juntos e não fizemos Amor.

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