Vitória
A vida podia ser mais simples e fácil, mas não é. Nós próprios é que a tornamos difícil e tortuosa.
Hoje tive vontade de te escrever. Mas não o fiz. Em parte porque temi a tua resposta e, por outro lado, porque o orgulho que me caracteriza sempre me impediria de o fazer, por muito que o desejo me impelisse a fazê-lo. E impele, acredita que impele. Mas, ao iniciar a redacção da minha carta deparei-me com a dureza das últimas palavras que me dirigiste. E estaquei, hirta de mágoa. Uma mágoa que só aqueles a quem amamos nos podem causar.Sei bem que não compreendes. Como poderias tu perceber? Têm o tigre e o falcão a mesma perspectiva da vida? Claro que não. É impossível que o tenham. Vêem-na sob formas absolutamente diversas porque a própria contingência da sua realidade física assim o impõe.
Eu e tu somos assim. Mas enquanto eu consigo ter alguma compreensão para contigo, tu és sempre para comigo de uma ferocidade esmagadora. Esmagadora e cruel.Tu sabes (porque não podes deixar de o saber) que tudo o que fiz ou disse foi sempre norteado pela preocupação ou pelo afecto. E se alguma vez duvidaste da sinceridade daquilo que ouviste da minha boca, só posso lamentar. Porque nunca te disse nem mais nem menos do que a verdade, tal como a vejo e interpreto.Mas tu...tu disseste coisas que sabias que me iriam magoar e realçaste-lhes deliberadamente o lado tenebroso para causar em mim uma mágoa sem retorno e uma dor sem limites.
Recuso-me sequer a tentar perceber porque razão o terás feito, porque qualquer conclusão a que chegue será pouco abonatória para ti.Se a tua intenção era ferir-me, conseguiste. Pouco importam agora as motivações subjacentes. Quero lá saber!Tens portanto motivos para te sentires vitorioso. Parabéns. Conseguiste.
E que maior satisfação tem quem peleja do que conseguir assim uma vitória, tão fácil de alcançar, tão simples de atingir?
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