O Visions: O Espírito dos Sonhos vem tomar o lugar que um dia pertenceu ao Four: O Espírito dos Elementos e conta com a assinatura do criador do espectáculo anterior, Michael MacPherson. Interactivo, conta com cerca de 50 performers espalhados pela audiência e convocando-a para a lógica da própria narrativa encenada e coreografada.
O palco onde os olhares se concentram é apenas um macguffin, sendo que o espectáculo acontece em toda a sala. No palco, está apenas um sonhador cujos movimentos e coreografias contam uma história nunca pronunciada. Entre o que se passa na sala e a acção que decorre em palco, eis onde se situa Visions: O Espírito dos Sonhos.
E é o lado onírico do sono, aqui surrealisticamente materializado, que predomina. E é precisamente por isso que a organização do espectáculo, no seu desenvolvimento vertiginoso, que este se assemelha ao que pretende recriar: um sonho. Este é recriado essencialmente a partir da significação temática de cinco vivências no universo etéreo dos sonhos: o movimento, o tempo, a luxúria, o pesadelo e a celebração.
Numa sequência de exercicios de malabarismo, o Movimento apoia-se em variáveis rítmicas, sustentadas por uma incontrolável adrenalina. É o ponto de partida para uma inesgotável liberdade de imaginação que invade o sonhador. Numa combinação de imagens que estimulam os sentidos, sobressaem os movimentos coreográficos elaborados dos bailarinos.
Em busca do momento perfeito, o Tempo pode levar o espectador a ambicionar uma vida nova, iniciando uma ruptura com o presente. "Traz a nostalgia das boas recordações ou a ansiedade em alcançar dias melhores", diz Michael McPherson. Uma ampulheta marca o tempo que, por sua vez, define a entrada no mundo surrealista e ilusório dos sonhos.
Noutro audacioso momento cénico, a Luxúria desdobra-se em registos de pura sensualidade. É o sonho a estimular o desejo de romper com o espírito conservador. Na antecipação do proibido, predomina a ostentação e a sumptuosidade. "O espectador pode desenhar no seu imaginário uma mulher bonita que gostaria de conhecer ou uma casa fantástica onde sempre quis viver", explica Michael McPherson.
Já no Pesadelo o público é desafiado a descodificar uma labiríntica sucessão de imagens, inscritas por figuras desconexas. "São memórias indesejáveis de um passado longínquo ou, ainda, o medo, o receio e a insegurança sobre o que nos reserva o futuro", explica Michael McPherson.
O espectáculo culmina com a Celebração, que enaltece sentimentos como a alegria e a felicidade. "É uma grande festa que simboliza todas as emoções implícitas num sonho", afirma o autor. Em verdadeira apoteose, é toda uma paleta policroma, representando um sonho único. Alcança-se, assim, o equilíbrio perfeito.
Toda a ambiência que percorre o espectáculo é sublinhada pela actuação dos músicos em palco. É um quinteto constituído por Anthony Wheeldon, na guitarra, Hector Herrera, na bateria, Ivan Pedreira, no baixo, Fausto Ferreira, ao piano, e Ana Freitas, no violino. Laura Sinclair, por seu lado, interpreta vários temas com influências da música pop .